quinta-feira, 11 de março de 2010

Russian Roulette #1

"Sabe, eu nunca pensei em ser como eu sou hoje. Meus dedos encarquilhados, meu semblante taciturno, minhas olheiras profundas, minha personalidade medíocre...
E minhas experiências incomparáveis.

Uma das primeiras coisas que eu fiz direito na minha vida foi ter minha filha, Débora, depois de um casamento de oito anos com minha mulher Agnes, que nunc bateu bem da cabeça. Ser casada com um escritor dava nisso: 'Zachary, a conta de luz chegou e nós não temos dinheiro em caixa!'. Por que diabos ela não ajudava a pagar as contas? Sua esclerose servia de desculpa pra gastar fortunas em cima de fortunas com o psicanalista? Remédio sob remédio, bulas duvidosas, dores de cabeça. Eu nunca deveria ter deixado ela ir naquela cigana. Ciganos nunca foram boa coisa, Stephen
King adora mostrar isso, e eu tenho todos os seus livros. Não, ela não seguiu a dieta 'de obesa a cadáver', mas chegaria a desejar que fosse.

Nesse momento, Zachary Huston(We have a problem), este quem vos escreve suas memórias, tem 6 balas e uma .45 na mesa ao seu lado, para uma partida de roleta russa com um adversário muito bom: A Morte. E sabe do melhor? Ela não morre! HÁ-HÁ. Essa carta, na verdade, é meu desfecho final. Deveria ser apenas algo com 'Sr. juiz' no fronte, mas todo escritor que se preze tem seu lado ortodoxo-kafkano. Faço uma análise da alma, mas eu não tenho vocação pra isso. Mas eu não nasci escritor.

Minha história de verdade começa na faculdade de medicina com uma enfermeira chamada Agnes Cleavor. Quando se faz patologia, ou se quer trabalhar com qualquer tipo de ciência legal, você acaba conhecendo alguém que tem o mesmo prazer mórbido que você. Especialmente se você morar em Massachussets, porque todos que leram Tess Gerritsen sabem que Boston é o local dos coveiros de jaleco. No último ano da faculdade, eu conheci Agnes. O mesmo prédio em que ela tinha aula pra cuidar de pecientes terminais, eu tinha aula para aprender a cuidar dos que já estavam terminados. O namorado dela na época, um cara metido a baywatch, que me lembrava mais uma coisa no estilo Bazzinga de ser. O tipo de pessoa com clássicas e convenientes pegadinhas, dentre as quais, trocar de namorada comigo. Não me queixo. Agnes era muito simples e recatava, enquanto namorávamos. Morava com uma amiga junto de Montauk, então tinha que fazer todo o caminho de carro, e pra isso acordar cedo. Muito cedo. A amiga, Casey, era um belo exemplo de mulher cabeluda. Se ela tivesse apenas um peito, eu pensaria que ela era a ressurreição de Ana Bolena(Ou Catarina de Aragao, nunca me lembro qual das mulheres de Henrique VIII tinha um monopeito e qual tinha polidactilia). Pois bem, depois de deixar o Chipanzé Jhonny no trabalho, que suspeitava eu, fosse mecânica, ou borracharia, ou até que fosse ela caminhoneira, Agnes vinha direto para a faculdade, com seu jeito meigo de garota criada em Long Island. Namoramos por dois anos, até me dar conta(erroneamente) de que ela era a mulher da minha vida, em todos os sentidos. Nos casamos em Las Vegas, na White Chapel, e de lá, partimos para uma viagem pela irlanda, passando pelas duas capitais, levando balas e trevos atirados por leprechauns. Passamos dias em cima de uma cama e embaixo de um edrodom verde.

Mas a felicidade acabou aí.

A esclerosada da minha mulher era doida de pedra. Se ela pedisse a Casa Branca e eu negasse, estava armada a terceira guerra mundial. Se eu entregasse a Casa Branca, ela brincaria com Obama e Michelle e depois imploraria que eu desse à ela o Monte Rushmore. E ai de mim se desse um pio. Controladora, mesquinha, falsa... Um Túlios Detritus da idade contemporânea. Não vejo hoje como posso ter me casado com ela, mas dizia algum comediante: 'Eu tava de porre!'. Bem, ambos estávamos. Agnes envelheceu no dobro do tempo, até o ponto em que ela completou trinta anos e eu a confundi com a minha tia Verônica. Ali eu pensei que eu iria ganhar a paz do divórcio, ela, com sua mania de puritana, me perdoa. Que pena. E depois de oito anos, Débora nasce.
O mais confortante de toda a gravidez era que ela mesma estava do meu lado. Ela gritava a todo segundo com suas oscilações de humor, mas eu me vingava a cada contração. Ossos do ofício. Ossos do marido. Ossos da mulher.
Apesar disso, Debbie cresceu em meio a gritos e lamúrias da parte da louca da minha mulher. Eu não falei do boneco, não? Na nossa lua de mel ela comprou um leprechaun de madeira chamado Bolly, e desde então Bolly é seu guia e companheiro. Minha filha cresceu ouvindo sua mãe esquizofrênica chorando na frente do duende mal-acabado trazido a oito anos para nossa casa em Boston.
Quando Debbie tinha nove anos, ela ganhou um presente da mãe.

Bolly.

Dalí em diante eu soube que a minha vida tinha acabado..."

Minha gente, quase que eu não postava hoje, rs. Pessoas e pessoas do bem, por favor comentem e digam se gostaram. Preciso de idéias. Vocês tem meu e-mail: mateusamaral_@hotmail.com me mandem sugestões!

Amanhã começa a série sobre sexologia. Só esperem. Perguntas mandem pro e-mail.

Beijos e fiquem com Bolly.

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